BIBLIOGRAFIA
O Estreito de Dardanelles é o canal de águas profundas que liga o Mar Egeu com o Mar de Mármara na Turquia. O Estreito deve ser considerado em conjunto com o Estreito de Bósforo, a via navegável que liga a extremidade norte do Mar de Mármara com o Mar Negro. Juntos estes canais constituem uma das vias fluviais mais estratégicas do mundo.
Prior a 1914, o Dardanelles foi muito ofuscado pelo seu homólogo do norte, o Bósforo, que foi a porta de entrada para Istambul, a capital do Império Otomano, e para o Mar Negro. Os dois canais passaram a ser o ponto focal da chamada Questão Oriental, sendo a questão o que aconteceria a Istambul e ao resto das terras otomanas depois do que foi então visto como o inevitável colapso do Império Otomano. Para a Grã-Bretanha e França, a questão principal era conter a Rússia, cujo objectivo tradicional era tomar Istambul e o Estreito, garantindo assim o acesso ao Mediterrâneo. A questão oriental estava tão entrelaçada com o destino dos Dardanelles e do Bósforo que o termo era muitas vezes intercambiável com a questão do Estreito.
Os Dardanelles saltaram para a vanguarda da história com a campanha de Dardanelles da Primeira Guerra Mundial (19 de Fevereiro de 1915-9 de Janeiro de 1916), também conhecida como a campanha Gallipoli, cujo nome vem da península na margem norte do estreito que viu os combates mais pesados. Pesadamente fortificado pelos turcos e seus aliados alemães, o estreito revelou-se impossível de ser superado pelos bombardeamentos navais e forças terrestres, e os Dardanelles tornaram-se o local de uma das derrotas mais espetaculares para os Aliados na Grande Guerra. Em grande parte idealizado por Winston Churchill, então primeiro senhor do almirantado, o objectivo da campanha era forçar o estreito e fazer uma corrida para Istambul, tirando assim o Império Otomano da guerra e estendendo a mão à Rússia, aliado da Grã-Bretanha que se encontrava numa situação difícil.
O ataque naval crítico ocorreu a 18 de Março, quando uma força Aliada composta por cerca de vinte navios de guerra pesados entrou no estreito e bombardeou fortemente as baterias da costa. O dia provou ser um desastre para a frota Aliada, com a perda de três navios de guerra e danos a muitos mais. Só no navio francês Bouvet, que atingiu uma mina e caiu em dois minutos, o capitão e 639 marinheiros foram afogados. Fazendo um balanço, o comando Aliado decidiu que um ataque naval sozinho nunca iria taxar as defesas turcas o suficiente para penetrar no estreito. Assim, a 25 de Abril começou a maior história militar de desembarque anfíbio que a história militar já tinha visto. A força Aliada consistia em setenta e cinco mil homens sob o comando do General Sir Ian Hamilton. A maior parte da força era composta por trinta mil soldados Anzac (Corpo do Exército Australiano e da Nova Zelândia), que se tornariam uma lenda durante a campanha.
A outra lenda da campanha de Dardanelles era o General turco Mustafa Kemal, que entraria para a história como Atatürk, o fundador da Turquia moderna. Mustafa Kemal deveria ser uma figura crucial na campanha. Altamente crítico da forma como os oficiais alemães do alto comando estavam dirigindo a campanha, Mustafa Kemal acabou se tornando um oficial talentoso. Foi, em grande parte, através do seu comando decisivo, igualado por falhas na inteligência e preparação Aliadas, que a aterragem de Anzac, a 25 de Abril, falhou. A campanha tornou-se então uma espécie de extensão da guerra de trincheiras que foi vista na frente ocidental, excepto pelo facto de, em alguns pontos, apenas dez metros separarem as duas trincheiras. As ferozes batalhas eram muitas vezes travadas por trincheiras, quando ambos os lados enterravam os seus mortos. Dizia-se que a cortesia e a civilidade com que os dois lados se tratavam era a última vez que se via cavalheirismo na guerra de trincheiras. Havia uma constante troca de presentes, os turcos jogando sobre uvas e doces, os Anzacs respondendo com comida enlatada e cigarros.
Em meados de maio ficou claro que nenhum dos lados estava em condições de desalojar o outro. O último grande empurrão dos Aliados veio em 6 de agosto, quando uma nova força foi desembarcada nas praias de Dardanelles. Em ferozes combates durante o mês de agosto, cerca de quarenta e cinco mil soldados Aliados morreram. Na última semana de Setembro, a Bulgária juntou-se à guerra do lado alemão, alterando drasticamente o equilíbrio de poder nos Balcãs. A 1 de Janeiro de 1916, os Aliados começaram a retirar-se da península. A campanha de Dardanelles ficou para a história como um dos encontros mais sangrentos da Primeira Guerra Mundial, com as baixas de ambos os lados estimadas em mais de meio milhão. Voltou a estratégia Aliada para a frente ocidental, onde o derramamento de sangue continuaria por mais dois anos e meio.
Veja tambémAtatürk, Mustafa Kemal; Guerra Mundial I.
BIBLIOGRAFIA
Anderson, M. S. The Eastern Question, 1774-1923: Um Estudo em Relações Internacionais. Londres, 1966.
Fromkin, David. A Peace to End All Peace (Uma Paz para Acabar com Toda a Paz): Creating the Modern Middle East, 1914-1922. Londres, 1989.
Moorhead, Alan. Gallipoli. Nova York, 1956.
Selim Deringil