Escândalo Petrobras, escândalo de corrupção política brasileira iniciado em 2014 que envolveu a acusação de dezenas de empresários e políticos de alto nível como parte de uma investigação generalizada alegando que muitos milhões de dólares tinham sido chutados de volta para funcionários da Petrobras, A grande empresa petrolífera brasileira, de maioria estatal, e para os políticos – especialmente os membros do Partido dos Trabalhadores (Partido dos Trabalhadores); PT), do Pres. Dilma Rousseff por proeminentes empresas brasileiras em troca de contratos com a Petrobras.
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O ato ilícito foi revelado por uma investigação federal iniciada em 2014 sob o nome de código Lava Jato (“Car Wash”). O esquema massivo de defraudar o maior empreendimento da Petrobras-Brasil e um símbolo do nacionalismo econômico arraigado do país só veio à luz, no entanto, após a reeleição estreita do presidente Rousseff, em 26 de outubro de 2014. Por ocasião de sua segunda posse, em 1º de janeiro de 2015, o índice de aprovação de Rousseff havia caído para 14%, com cerca de dois terços dos brasileiros culpando-a pelos problemas da Petrobras.
Dublinhado “Petrolão”-desde mensalão (“grande suborno mensal”), o escândalo de compra de votos que havia atormentado o governo do antecessor e mentor de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva (mais conhecido simplesmente como “Lula”) – o episódio passou a ser visto como o maior escândalo de corrupção da história do Brasil. Em junho de 2015, um esquema massivo para defraudar a Petrobras em contratos para desenvolver as chamadas reservas de petróleo do pré-sal, encontradas no mar em 2007, havia aparecido no radar dos investigadores. Além disso, relatórios sugeriam que os promotores federais também estavam investigando o setor gerador de energia elétrica, fundos de pensão para funcionários de empresas estatais e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Este último forneceu bilhões de dólares em financiamentos subsidiados à Petrobras e a outros “campeões nacionais”, como o bilionário Eike Batista, cuja riqueza caiu espetacularmente em 2013.
Dado o tamanho da Petrobras e a amplitude de seu alcance na economia do país, Samuel Pessoa, um dos principais economistas, projetou que os males da empresa reduziriam o PIB do Brasil em 0,75% em 2015. No caso, a economia brasileira não só mergulhou na recessão como também ficou atolada em uma crise econômica que, de acordo com algumas fontes, foi a pior que o Brasil viveu desde 1901, com a inflação subindo. Uma crise de confiança cada vez mais profunda se alastrou em torno da percepção de má gestão macroeconômica por parte da administração Rousseff durante seu primeiro mandato.
Milhões de brasileiros responderam às chamadas da oposição para marcar o 30º aniversário da restauração da democracia, em 15 de março de 2015, com um dia de protestos de rua. Em julho – com sua popularidade reduzida a um dígito nas pesquisas de opinião – Dilma achou necessário afirmar em entrevista ao jornal Folha de São Paulo que não renunciaria à presidência e que lutaria “com unhas e dentes” contra qualquer tentativa de destituí-la do cargo. Ex- tecnocrata com habilidades políticas limitadas, mas com uma reputação de honestidade pessoal reconhecida até mesmo por seus adversários, a presidente ficou lívida com as alegações de seu envolvimento no escândalo. “Não vou pagar pela porcaria de outra pessoa”, disse uma furiosa Dilma aos conselheiros antes de partir para uma visita oficial aos Estados Unidos em 28 de junho, segundo informações divulgadas à Folha de São Paulo e não negadas pela assessoria de imprensa do presidente. No início de dezembro, o calor foi atirado sobre Rousseff, que se tornou alvo de processos de impeachment, não por causa de qualquer suposto envolvimento no escândalo, mas por acusações de que ela havia empregado indevidamente fundos de bancos estaduais para mascarar déficits orçamentários.
Testemunho de vários indivíduos implicados no escândalo Petrobras, incluindo dois ex-dirigentes seniores da empresa e o CEO de uma das construtoras envolvidas, expuseram uma conspiração criminosa semelhante a uma cartela, criada e dirigida a partir de dentro da empresa após 2003, durante um período em que Dilma presidiu o conselho de administração da empresa como ministra das minas e energia e chefe de gabinete do governo Lula. Durante mais de uma década, os gerentes da Petrobras supostamente atuaram com altos executivos de empresas que forneciam bens e serviços à Petrobras (incluindo as maiores construtoras do Brasil) para inflar os preços dos contratos da Petrobras, num esforço de economizar até 3% de desconto em cada contrato, numa base de rotação pré-determinada. Cerca de US$ 2,1 bilhões foram supostamente redistribuídos dessa forma para o ganho pessoal dos operadores do esquema e para financiar campanhas de dezenas de políticos, em sua maioria do PT e de seus parceiros na coalizão governamental, em especial o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Pedro Barusco, um executivo de terceira linha que se reportou a Renato Duque, diretor de engenharia e serviços da Petrobras, concordou em devolver US$ 100 milhões que havia roubado da empresa e depositado em contas bancárias no exterior. O ex-diretor de refinaria e fornecimento da empresa, Paulo Roberto Costa, confessou ter recebido subornos e concordou em devolver US$ 23 milhões.
Mais de 30 indivíduos foram presos em operações realizadas nacionalmente pela polícia federal a partir de meados de novembro de 2014. Os acusados foram levados para um centro de detenção em Curitiba, cidade do sul do país, onde o juiz federal Sérgio Fernando Moro presidiu o caso. Entre os diretamente envolvidos estavam os CEOs das principais construtoras OAS, Queiroz Galvão e UTC, além dos altos executivos das construtoras Camargo Corrêa e Engevix, bem como os altos executivos da empresa petrolífera IESA. Em 19 de junho de 2015, os CEOs de duas das maiores construtoras do Brasil, Marcelo Odebrecht (da Organização Odebrecht) e Otávio Marques de Azevedo (da Andrade Gutierrez S.A.), foram presos sob ordens do Juiz Moro. Em julho, o presidente da Camargo Corrêa, Dalton dos Santos Avancini, juntamente com o presidente da empresa e um alto executivo, foi condenado por lavagem de dinheiro, corrupção e outras acusações relacionadas ao escândalo. O empresário de maior destaque a ser ludibriado pelo escândalo foi André Santos Esteves, presidente do banco de investimentos brasileiro BTG Pactual, que foi preso em 25.
Tambem preso naquele dia foi o senador Delcídio do Amaral do PT, importante aliado de Dilma, que se tornou o primeiro senador em exercício a ser preso desde pelo menos os anos 80. Amaral e Esteves foram acusados de obstruir a investigação do escândalo ao tentar pressionar um ex-executivo da Petrobras a não aceitar um acordo de plebiscito e cooperar com os investigadores. Até então, mais de 50 membros e ex-membros do Congresso tinham sido alvo de investigações criminais por parte de promotores – entre eles o presidente do Senado, Renan Calheiros; o presidente da Câmara dos Deputados (Câmara dos Deputados), Eduardo Cunha; e o ex-ministro da Fazenda de Lula, Antonio Palocci, que atuou brevemente como chefe de gabinete de Dilma antes de ser deposto em um escândalo de lobby em separado. Também foram visados o ex-ministro das Minas e Energia do primeiro mandato de Dilma, Edison Lobão, protegido do ex-presidente José Sarney, e o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que havia retornado como senador de Alagoas uma década após seu impeachment como presidente, em 1992, sob acusações de corrupção, das quais foi mais tarde liberado pelo Supremo Tribunal Federal.
Até março de 2015, os promotores federais haviam acusado formalmente 110 pessoas de corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros. Em abril, a nova equipe de gestão da Petrobras, incluindo o novo CEO Aldemir Bendine, anunciou que a empresa havia perdido US$ 17 bilhões por má gestão e enxerto. Eles também disseram que a Petrobras teria que vender quase a mesma quantia em ativos e adiar planos de investimento para recuperar a sua base financeira. Além disso, o valor de mercado da Petrobras havia sido reduzido pela metade e a empresa estava sobrecarregada por uma dívida de US$ 100 bilhões. Enquanto isso, ações de classe movidas contra a Petrobras por investidores e investigações abertas pela Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) e pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos sob a Lei de Práticas Corruptas Estrangeiras (1977) acrescentaram à pressão o escândalo gerado para melhorar a governança corporativa do Brasil.
Em agosto de 2015, José Dirceu, que havia atuado como chefe de gabinete do Lula de 2003 a 2005, foi preso quando os tentáculos do escândalo atingiram os mais altos níveis de cargos eleitos no Brasil. Já condenado por envolvimento no caso mensalão, Dirceu havia passado 18 meses na prisão e estava cumprindo o restante de sua pena de mais de 10 anos sob prisão domiciliar. No início de 2016, o próprio Lula foi ludibriado na investigação.
No dia 4 de março de 2016, a casa de Lula foi invadida pela polícia, que então trouxe o ex-presidente para cerca de três horas de interrogatório. Ele foi formalmente acusado de lavagem de dinheiro cerca de uma semana depois por alegadamente ter escondido a sua propriedade de um apartamento de luxo à beira-mar que alegadamente tinha entrado em sua posse como resultado dos seus laços com uma empresa de construção civil. Lula negou a propriedade do apartamento. Com o aumento da indignação pública, Rousseff nomeou-o seu chefe de gabinete, ostensivamente para empregar a influência política ainda ampla de Lula para ajudá-la a navegar pelos cardumes perigosos da crise econômica. Antes que isso pudesse acontecer, um juiz federal bloqueou a nomeação de Lula e liberou uma conversa telefônica grampeada entre Rousseff e Lula, o que, sem dúvida, indicou que Rousseff tinha feito a nomeação para proteger Lula da acusação. Como membro do gabinete, Lula estaria legalmente isento da acusação federal e só poderia ser julgado na Suprema Corte. Contra esse pano de fundo, os apelos para o impeachment de Dilma incharam nos corredores do governo e nas ruas: em 13 de março, de acordo com algumas estimativas, mais de um milhão de brasileiros em todo o país se juntaram aos protestos que pediam a demissão ou remoção de Dilma.
Em 29 de março, o PMDB, o maior partido da Câmara dos Deputados, retirou-se da coalizão governista do governo. Apesar de ter sido ele próprio acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, o Cunha do PMDB tornou-se um dos mais enérgicos defensores do impeachment de Rousseff por motivos relacionados com as práticas contabilísticas alegadamente pouco éticas do seu governo. Em 11 de abril, uma comissão do Congresso com 65 membros votou 38-27 para recomendar que se avançasse com o processo de impeachment. No dia seguinte, outro dos parceiros da coalizão governista do PT, o Partido Progressista, retirou-se do governo, aumentando a possibilidade de que a maioria de dois terços dos votos na Câmara dos Deputados necessários para enviar Dilma ao Senado para julgamento pudesse ser alcançada. No caso, na noite de 17 de abril, após três dias de debate apaixonado, a Câmara dos Deputados de 513 deputados votou para prosseguir com o processo de impeachment, pois 367 deputados votaram pelo impeachment (consideravelmente mais do que os 342 votos necessários).
Quando o Senado se preparou para votar sobre se deveria julgar Dilma, uma nova rugas apareceu na história. Na primeira semana de maio, o Supremo Tribunal ordenou que Cunha fosse removido como orador por alegadamente ter obstruído a investigação das acusações de corrupção contra ele. Em 9 de maio, seu substituto como orador, Waldir Maranhão (que também era alvo da investigação da Lava Jato) anulou a votação de 17 de abril, dizendo que irregularidades haviam ocorrido durante a sessão em que a votação foi realizada. Um dia depois, respondendo às afirmações dos senadores de que prosseguiriam com o seu voto de qualquer forma, o Maranhão inverteu a sua decisão. Entretanto, um recurso de Dilma ao Supremo Tribunal Federal para suspender o processo de impeachment foi infrutífero.
Após um debate noturno, no início da manhã de 12 de maio, o Senado votou 55 a 22 para suspender Dilma e considerar o impeachment. O Vice Pres. Michel Temer do PMDB, um antigo aliado de Dilma, tornou-se presidente interino. Em caso de condenação de Rousseff, Temer cumpriria o resto do seu mandato, terminando em 2018. O próprio Temer tinha sido condenado por violar os limites financeiros da campanha e enfrentava a possibilidade de ser proibido de concorrer ao cargo nas próximas eleições.
A administração interina de Temer sofreu um golpe de misericórdia menos de duas semanas depois de tomar posse, quando Romero Juca, o novo ministro do planejamento e um confidente próximo do presidente em exercício, foi forçado a renunciar em meio a acusações de que ele havia tentado obstruir a investigação da Operação Lavagem de Carros. Um jornal divulgou uma conversa gravada entre Juca e um ex-senador sob investigação no escândalo em que Juca disse: “O governo tem que ser mudado a fim de estancar esta hemorragia”. Juca alegou que estava se referindo à necessidade de substituir Dilma a fim de ressuscitar a economia; críticos alegaram que ele estava propondo fazer de Dilma um bode expiatório para o escândalo.
No dia 10 de agosto o Senado votou 59 a 21 para realizar um julgamento de impeachment de Dilma, no final do qual uma maioria de dois terços dos votos seria necessária para condenação e destituição permanente do cargo. Esse julgamento começou em 25 de agosto. Quando compareceu ao Senado em 29 de agosto, Rousseff alegou novamente que, ao transferir fundos estatais, não tinha feito nada que os presidentes anteriores ainda não tivessem feito, e argumentou que a tentativa de forçá-la a sair da presidência tinha realmente acontecido porque ela tinha permitido que a investigação da Operação Lavagem de Carros prosseguisse e se expandisse. No entanto, em 31 de agosto o Senado votou 61-20 para condenar Rousseff e retirá-la definitivamente do cargo. Temer preparou-se para cumprir o restante do mandato de Dilma, que estava programado para durar até janeiro de 2019.
Em 13 de setembro, duas semanas depois, a Câmara Municipal votou pela expulsão de Cunha, nêmesis de Dilma, por perjúrio, corrupção e obstrução à justiça, eliminando assim sua imunidade de processo criminal e abrindo a possibilidade de que ele também pudesse ser acusado na investigação da Operação Lavagem de Carros. Cunha seria posteriormente julgado, condenado por corrupção, lavagem de dinheiro e envio ilegal de dinheiro para o exterior, e condenado a mais de 15 anos de prisão.
Em um desenvolvimento ainda mais dramático, em 20 de setembro, Sérgio Moro, o juiz que supervisionava a investigação, ordenou formalmente que Lula, sua esposa e outros seis fossem a julgamento. Lula, que foi acusado de ter aceitado subornos no valor de cerca de 1,1 milhões de dólares e foi chamado de mestre do escândalo, mais uma vez protestou a sua inocência, alegando que as acusações se destinavam a impedi-lo de concorrer à presidência em 2018.
Em janeiro de 2017, a esposa de Lula sofreu um derrame cerebral. Ela morreu no início de fevereiro. Em maio de 2017 o julgamento envolvendo o apartamento de luxo à beira-mar (apelidado de “julgamento do século” do Brasil) começou com Lula fazendo um depoimento de cinco horas perante o Juiz Moro. Em julho, Lula foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele recebeu uma sentença de quase 10 anos de prisão.
Entretanto, o domínio de Temer sobre o poder tornou-se cada vez mais tênue à medida que ele se tornou alvo de novas acusações de corrupção relacionadas com o escândalo. Em maio de 2017, uma fita gravada secretamente apareceu de uma conversa entre Temer e Joesley Batista, o presidente de uma grande empresa de frigoríficos. Nessa conversa, Temer apareceu para aprovar a oferta de dinheiro secreto a Cunha. Mais tarde, Batista testemunharia que Temer tinha recebido milhões de dólares em subornos. Ameaçado de impeachment, Temer negou as acusações e recusou-se a demitir-se. No final de junho ele foi oficialmente acusado de corrupção, mas, antes de ser julgado, dois terços da Câmara dos Deputados teriam de votar para suspendê-lo do cargo para serem julgados. Quando os deputados votaram em 2 de agosto de 2017, apenas 227 dos 513 votaram para julgar Temer – bem abaixo dos 342 votos necessários.
Embora os índices de aprovação pública de Temer fossem sombrios com a aproximação das eleições presidenciais de outubro de 2018, as pesquisas de opinião mostraram que Lula era o principal candidato ao cargo mais alto do país. A capacidade de Lula de concorrer, no entanto, baseava-se na decisão de um tribunal de recurso em Porto Alegre sobre a sua condenação. A lei de registros limpos aprovada em 2010 durante a presidência de Lula proibiu os criminosos condenados de concorrer a cargos públicos. Em 24 de janeiro de 2018, o painel de três juízes não apenas manteve unanimemente a condenação de Lula, mas também aumentou sua sentença para mais de 12 anos. No entanto, Lula ainda tinha a opção de recorrer dessa decisão para a Suprema Corte, e havia especulações de que ele também recorreria da proibição de sua candidatura.
Em 5 de abril de 2018, a Suprema Corte negou um pedido de Lula para que ele fosse autorizado a permanecer livre enquanto ele prosseguia com suas opções finais de recurso. Em vez de se entregar no dia seguinte para começar a cumprir sua pena de prisão como lhe foi ordenado, Lula refugiou-se por dois dias fora de São Paulo na sede do sindicato onde havia começado sua carreira política. Em 7 de abril, no entanto, após proferir um discurso apaixonado no qual ele mais uma vez protestou sua inocência e alegou que sua acusação e condenação tinham sido motivadas politicamente, Lula se entregou para começar a cumprir sua sentença.